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Conheça algumas expressões racistas que devemos abolir do vocabulário e saiba como combater

No Brasil, percebemos a linguagem como uma forma de manutenção do sistema racista, caracterizada como "racismo sutil”
Por: 02/12/2022 - 14:15 - Atualizado em: 02/12/2022 - 14:16
Animação de mulher negra piscando e texto falando
Reconhecer e corrigir termos racistas pode ser o primeiro passo em direção ao respeito à comunidade negra (Foto: Wikipédia)

Por Maya Santos

Em algum momento você deve ter ouvido as expressões “criado mudo”, “bolo nega maluca”, “isso é serviço de nego”.  Mas, você sabia que esses termos são racistas? Não! Então, que tal seguir o conselho de Barack Obama e sermos “a mudança que buscamos”.

O racismo é sistema que consiste em preconceito e na discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre pessoas e povos, sejam esses povos negros, latinos ou indígenas, por exemplo. Essa percepção estrutura, ou seja, educa as pessoas a agirem de forma opressora e discriminatória com pessoas racializadas. 

Segundo a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz o “racismo é uma linguagem social pejorativa”. Ou seja, mesmo após a “abolição da escravatura”, em 13 de maio de 1888, resquícios de atitudes que discriminam pessoas por serem negras ainda estão presentes no século 21. No Brasil, percebemos a força dessa discriminação caracterizada como "racismo sutil”. 

Por isso, voltar no tempo para conhecer e entender a história pode ajudar a excluir do vocabulários expressões racistas. Para te ajudar nessa jornada de reeducação, e em celebração do Dia Internacional para a Abolição da Escravatura, elaboramos uma lista com expressões pejorativas e seus significados baseado na cartilha “Vamos repensar no vocabulário?” desenvolvido pelo Programa Sesc e Senac de diversidade – Para Todos. Confira e reflita!

1. “A coisa tá preta”

O termo associa a palavra “preto” com uma situação desconfortável, desagradável, difícil ou perigosa. Melhor dizer: “a coisa tá difícil”.

2. “A dar com pau”

Tem origem nos navios que traziam os povos escravizados, quando algumas pessoas preferiam morrer de fome a serem escravizadas. Assim elas eram alimentadas à força com um tipo de colher de pau grande, daí vem a expressão “a dar com pau”. No lugar, diga: “bastante” ou “muito”.

3. “Até tenho amigos que são negros”

Frase de defesa quando se aponta alguma atitude ou fala racista. Não utilizar. Repense seu comportamento. Vivemos em uma sociedade racista, infelizmente, ainda é comum reproduzirmos falas racistas sem nos darmos conta. Não use esta expressão!

4. “Cabelo ruim”, “cabelo bombril”, “cabelo duro”

Termos racistas usados como bullying que depreciam a imagem e o cabelo de pessoas negras. Falar mal das características dos cabelos Afro também é racismo. Melhor falar: “cabelo crespo”, “cacheado” ou “afro”.

5. “Cor de pele”

A expressão ficou conhecida para descrever a cor rosa-claro, fazendo referência à pele de pessoas brancas. Porém, como já é sabido, não existe apenas uma cor de pele, vivemos uma sociedade mista e plural. Melhor falar: “rosa-claro” ou “bege”

6. “Cor do pecado”

Utilizada erroneamente como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. Em uma sociedade pautada na religião, pecar não é positivo, ser pecador é errado, e ter a pele associada ao pecado significa que ela é ruim. Outra expressão que faz a mesma associação de que negro como negativo. Não use esta expressão!

7. “Coisa/ serviço/ trabalho de preto”

Usado para descrever um serviço mal feito. O termo é carregado de preconceito, uma vez que descreve as pessoas negras como incapazes e preguiçosas. Jamais use estas expressões! Substitua por: “trabalho errado”.

8. “Criado mudo”

Você sabia que o nome dado a este móvel faz referência aos criados (geralmente escravizados) que deviam segurar objetos para seus senhores? Como estes criados não podiam falar, eram considerados mudos, daí o termo criado-mudo. Melhor dizer: “mesa de cabeceira”.

9. “Denegrir”

Tem como real significado “tornar negro”, “escurecer”. É usado para difamar ou acusar injustiça por outra pessoa, sempre usado de forma pejorativa, ou seja, utilizar esta palavra pejorativa é extremamente racista. Melhor usar: “difamar”

10. “Doméstica”

Domésticas eram as mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas. Diga: “empregada” ou “funcionári”.

11. “Escravo”

Este termo trata os africanos como passivos e desprovidos de subjetividade. Os africanos que vieram para o Brasil eram pessoas, reis, rainhas, camponeses, homens e mulheres escravizados contra a sua vontade. Substitua por: “pessoas escravizadas” e “escravidão” por “escravização”.

12. “Fazer nas coxas”

Acredita-se que a expressão vem da técnica utilizada pelos escravizados para fazer telhas. Por serem artesanais e seguirem os formatos dos corpos, as peças não se encaixavam bem umas nas outras, sendo consideradas mal feitas. Melhor falar: “mal feito”.

13. “Humor negro”

Usam para descrever um tipo de humor ácido e com piadas de mal gosto com temas mórbidos, sérios ou tabus com tom politicamente incorreto. Você pode usar: “humor ácido”

14. “Inveja branca”

Associa o “negro” ao negativo, a algo que faz mal e o “branco” ao que é positivo, uma inveja boa, um sentimento do bem. Use apenas: “inveja”.

17. “Lista negra”

Usada para descrever pessoas que, por alguma razão negativa, estão excluídas de certos grupos, ou ainda que uma pessoa está sendo perseguida. Mais uma vez a palavra “negra” é usada como algo negativo. Diga: “lista proibida” ou “restrita”.

18. “Mercado negro”

Muito usado para se refererir a um sistema de compras e vendas clandestino, ilegal. Substitua por: “mercado clandestino”.

19. “Moreno (a)”

Pessoas acreditam que chamar alguém de negro ou preto é ofensivo. Falar “morena” ou “mulata” , embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incômodo”. Você deve se referir a pessoa pelo nome ou questioná-la como ela prefere ser descrita.

20. “Mulato (a)”

A palavra significa literalmente: mula, a cruza de um asno macho com uma égua. O termo surge na época da escravização, quando muitas mulheres escravizadas eram violentadas por “seus senhores” e tinham filhos que eram chamados de mulatos. Substitua por: “pardo(a)” ou “mestiço(a)”.

21. “Não sou tuas negas”

Trata a mulher negra como ”qualquer uma” ou “de todo mundo” , relembra o tratamento às mulheres escravizadas que eram, seguidamente, assediadas e estupradas.

A frase deixa explícita que com “as negras pode tudo” , e com as demais não se pode fazer o mesmo, e no “tudo” está incluso desfazer, mal tratar. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo. não use esta expressão.

22. “Nega maluca”

Há uma lenda que diz que o termo foi criado quando uma mulher escravizada estava fazendo um bolo e acidentalmente deixou cair cacau em pó na receita e, ao invés de descartar a massa, seguiu criando o bolo de chocolate. O termo reforça estereótipos. Diga apenas: “bolo de chocolate”.

23. “Nhaca”

Desde a época colonial o termo é usado para falar de algo com cheiro forte, desagradável. O que pouca gente sabe é que Inhaca é uma ilha de Moçambique e é daí que vem o uso do termo, mais uma vez para reforçar estereótipos e preconceitos. Diga apenas: “cheiro ruim”.

24. “Tem o pé na cozinha”

Usada de forma preconceituosa para falar de pessoas de origem negra, uma vez que na época da escravização, este era o espaço destinado às mulheres negras. Não use este termo.

25. “Samba do crioulo doido”

É o título de uma canção de samba, composta por Sérgio Porto (pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta), que ironizava a obrigatoriedade de as escolas de samba retratarem em seus enredos apenas temas de fatos históricos.

Porém a expressão debochada reforça um estereótipo e descriminação aos negros. Diga: “confusão”, “trapalhada” ou “bagunça”.

Agora que você conhece alguns dos termos que desclassificam e discriminam a comunidade negra brasileira, que tal abolir do seu vocabulário de vez e reeducar sua fala? Assim podemos considerar essa ação como o primeiro passo para reconhecer a importância de ter atitudes antirracistas, postura ou movimento que se opõe e combate o racismo.

 

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