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Alcoólicos Anônimos: uma luta por mais 24 horas de sobriedade

Mesmo com idades e contextos sociais distintos, as histórias dos integrantes dos grupos são semelhantes, criando uma rede de empatia e apoio mútuo
Elaine Guimarães Por: 18/02/2019 - 10:39 - Atualizado em: 18/02/2019 - 10:59

Um salão amplo e cadeiras brancas cuidadosamente organizadas. Na mesa à frente, o coordenador do grupo de Alcoólicos Anônimos (AA) toca a campainha, silenciando as conversas paralelas, e inicia uma oração em seguida. Todos os presentes levantam e acompanham a prece. Este é o sinal que indica o começo de mais uma reunião. Após a fala de abertura do coordenador, os homens, que estão no salão com o desejo de abandonar o vício, vão, um a um, ocupando o púlpito para compartilhar com seus colegas experiências de vida e comemorar mais 24 horas de sobriedade. Mesmo com idades e contextos sociais distintos, as histórias são semelhantes, criando uma rede de empatia e apoio mútuo.

Nas reuniões, com duração máxima de duas horas, os frequentadores usam apelidos ou codinomes. Não há um cadastro com endereço ou número de telefone, a fim de preservar a identidade e deixá-los o mais à vontade possível. “Ninguém é obrigado a permanecer no grupo, até porque não é o nosso objetivo. Se estão aqui é porque querem. O alcoolismo é a doença da negação e, por isso, nem sempre continuam por aqui”, afirma Guilherme, que frequenta o A.A há 26 anos, mas, agora, como voluntário.

Ele comenta que perdeu muitos bens materiais e de valor afetivo por conta vício. “Antes de chegar aqui, eu tive muitos problemas com a minha família. Todos começaram a se afastar de mim [...] a princípio, não percebi o impacto que a bebida deixava naqueles momentos”, relembra. Como voluntário, Guilherme explica como funcionam as abordagens para participação no grupo. “As pessoas chegam aqui através de divulgação e abordagens, que ocorrem nas empresas e clínicas de reabilitação. Geralmente, somos convidados a palestrar e compartilhar as experiências do A.A nesses lugares. Ainda há empresas que preferem tratar o profissional, no lugar de demiti-los”, comenta.

Os encontros não ocorrem com a presença de psicólogos ou assistentes sociais. O grupo é regido pela obra “Os Doze passos e As doze tradições” que sugere etapas para a recuperação e convívio dentro da Irmandade e comunidade externa. “Temos este livro, que foi escrito por um dos fundadores dos Alcoólicos Anônimos, como guia para as nossas reuniões. Além disso, como incentivo, distribuímos medalhas que vão mudando a partir do tempo de permanência no grupo”, explica Guilherme.

O grupo é composto majoritariamente por homens. Durante a visita da reportagem, não havia uma mulher sequer na reunião. Com os pés descalços, Djalma compartilha com os colegas a luta contra o alcoolismo. “As pessoas apontavam para mim e diziam que eu seria o próximo filho a morrer por causa da bebida. Meu irmão morreu por causa do alcoolismo e muita gente achou que eu iria para o mesmo caminho. Por muito tempo, vivi na rua. Por isso, estou falando com vocês descalço para lembrar de tudo que passei por causa da bebida”, relembra.

Há seis meses frequentando o A.A, Antônio relata que foi difícil perceber os efeitos negativos da bebida na vida. “Eu fazia sindicato [expressão usada para falar sobre o tempo ingerindo bebida. De acordo com ele, já acordava com vontade de beber e não importava o horário]. Na época, meu pai faleceu, mas eu estava tão entregue a bebida que acabei perdendo o enterro dele. Após alguns dias, fui perguntar a minha mãe quando seria o enterro e ela, bem indignada, contou que já tinha passado”.

Antônio lembra que a relação com o filho ficou bastante comprometida diante do vício. “A gente não se falava direito. Demorou um tempo para eu perceber o estrago que a bebida fazia. Mas, graças a um amigo que falou sobre o grupo, comecei a participar das reuniões e, aos poucos, fui recuperando a minha família. Neste tempo, eu descobri um câncer na garganta, causado pelo consumo excessivo da bebida. Comecei o tratamento e, agora, estou curado”, comemora.

Além dos espaços físicos, distribuídos entre 27 Estados e Distrito Federal, os Alcoólicos Anônimos também possui um canal de ajuda online, através do Chat ‘Amigo Anônimo’ que funciona no inbox do Facebook e identifica características de alcoolismo e utiliza tecnologia de geolocalização para facilitar a busca de grupos de apoio próximos. Além disso, a organização nacional também disponibiliza Linha de ajuda 24h, cujo número é (11) 3315-9333.

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